O etarismo se tornou um termo amplamente conhecido e discutido no Brasil após um episódio ocorrido em março de 2023. Nele, três jovens universitárias do curso de Biomedicina zombavam de uma colega de turma de 45 anos dizendo, dizendo que com essa idade, a colega deveria era “estar aposentada”. O episódio que ocorreu em Bauru (SP) despertou debates calorosos sobre algo existente na sociedade, mas pouco discutido: o preconceito e discriminação baseados na idade.
Apesar da existência deste preconceito, o IBGE aponta que o Brasil terá a quinta população com maior percentual de idosos do mundo em 2030 e o cenário, a nível mundial, aponta para o aumento dessa faixa etária. Com o avanço da medicina e das melhores condições de vida, a população tende a viver por mais tempo, o que nos traz reflexões sobre a inclusão dessa população, que possui demandas sociais e a necessidade de políticas públicas específicas.
Quando falamos em finanças e a população idosa, vale lembrar que essa população costuma ser mais vulnerável aos golpes e, portanto, alvos frequentes de pessoas e organizações maliciosas. Pensando nisso, elaboramos este artigo. Continue a leitura para entender mais sobre o etarismo e como esse preconceito é uma das causas frequentes do endividamento de idosos.
Índice:
O que é etarismo?
O termo “etarismo” refere-se à discriminação ou preconceito baseado na idade. Assim como o racismo é a discriminação com base na raça, e o sexismo é a discriminação com base no sexo, o etarismo é a discriminação com base na idade.
Essa forma de discriminação pode ocorrer tanto em contextos sociais quanto no âmbito profissional. O etarismo pode manifestar-se de várias maneiras, como a exclusão de pessoas mais velhas em certos empregos, estereótipos negativos associados a determinadas faixas etárias, falta de oportunidades de desenvolvimento profissional para pessoas mais velhas, entre outras situações onde as pessoas são tratadas de maneira injusta ou desigual devido à sua idade.
O etarismo é uma questão importante, pois pode levar à marginalização e à exclusão social de grupos etários específicos, afetando negativamente a qualidade de vida e o bem-estar das pessoas mais velhas. O combate ao etarismo envolve a promoção de uma sociedade mais inclusiva, que valorize a diversidade e respeite os direitos e dignidade de todas as idades.
Qual a relação entre etarismo e finanças?
Todas as pessoas podem ser vítimas de golpes financeiros em algum momento das suas vidas. Contudo, o preconceito é um fator agravante para entendermos como os idosos são vítimas comuns nestes cenários. Isso porque o etarismo opera das seguintes maneiras:
- Idosos constantemente são retratados de forma estereotipada pela mídia;
- Enfrentam dificuldades ao acessar a internet e usar as redes sociais;
- São tratados de forma desigual em relação às pessoas mais jovens;
- Entre outros exemplos.
A barreira digital ainda é um grande desafio enfrentado pelo público idoso, que especialmente após a pandemia precisou se adaptar e usar serviços online, que antes ocorriam de forma presencial. Um estudo feito pela UFSM mostrou que esse público enfrenta diversos desafios para se adaptar à tecnologia.
Neste cenário, o preconceito demonstra um papel central. Em partes, porque não se espera que o idosa possa utilizar a tecnologia assim como as pessoas mais jovens. E, por outro lado, quando buscam aprender se deparam com a impaciência e a falta de humanização. Devemos pensar também que a própria estrutura acaba não sendo pensada para esse público que tem demandas diferentes da população jovem.
Idosos e golpes online
Até aqui percebemos que o preconceito e discriminação com base na idade dificulta o acesso a diversas áreas, incluindo a tecnologia. A exclusão da tecnologia, leva à desinformação, que por sua vez, torna os idosos mais sucetíveis aos golpes.
Entre os golpes mais comuns destacamos o golpe do WhatsApp clonado, golpes nas redes sociais em geral e o telessaque, uma prática que oferece uma espécie de empréstimo ao idoso pelo telefone e que é considerada lesiva pelo judiciário.
Neste sentido, é importante que os idosos tenham uma rede de apoio, que incentive o conhecimento das tecnologias e alerte sobre esses tipos de golpes. Muitos idosos são vítimas nos golpes justamente porque não foram alertados e não conhecem as características dos golpes em questão. Cabe também que os órgãos públicos promovam a inclusão e debates sobre esse assunto.
Leia também: Golpes financeiros: confira dicas para não cair
Idosos e o endividamento excessivo
O empréstimo consignado é uma das modalidades de crédito mais acessada pelos idosos. Afinal, diferente de um empréstimo comum, neste caso o desconto acontece diretamente no pagamento da aposentadoria. Quando usado com pleno conhecimento sobre como funciona, juros e taxas envolvidos, essa pode ser uma ferramenta interessante para os idosos. Porém, também pode causar o endividamento excessivo.
O INSS alerta que a escolha de um empréstimo consignado deve ser feita com pleno conhecimento sobre números de parcelas, valor liberado, taxas e também uma consulta no site do Banco Central, já que as Instituições Financeiras devem ser autorizadas pelo órgão para oferecer esse tipo de serviço.
Vale lembrar que o INSS jamais entra em contato com os beneficiários pelo telefone, mensagens ou redes sociais, não envia motoboys para realizar o pagamento e não solicita dados dos aposentados, como o número e senha do cartão. Essas práticas são criminosas e devem ser denunciadas.
Etarismo e o acesso à saúde
Além dos golpes e empréstimos com taxas abusivas, vale lembrar que a saúde é outra causa do endividamento dos idosos. Essa faixa etária possui demandas específicas em relação aos cuidados com a saúde e, quando não atendidas pelos órgãos públicos, leva a gastos expressivos com medicamentos, consultas médicas e exames.
Dessa forma, os gastos podem se acumular ao longo do tempo e dificultar o pagamento.
Etarismo é crime
Por fim, vale lembrar que o etarismo é crime previsto no Estatuto da Pessoa Idosa, pela Lei nº 10.741/2003. O Estatuto do Idoso estabelece uma série de direitos e medidas de proteção para assegurar o bem-estar e a dignidade dos idosos, buscando combater o etarismo e a discriminação relacionada à idade. Algumas das principais disposições do Estatuto do Idoso incluem:
- Prioridade: o idoso tem prioridade em atendimento em serviços públicos e privados, como saúde, transporte, lazer e cultura;
- Respeito à dignidade: é proibido tratar o idoso de forma desrespeitosa ou negligente, garantindo-lhe o direito ao respeito, à liberdade, à convivência familiar e comunitária, e à integridade física, psicológica e moral;
- Proteção contra violência: o Estatuto do Idoso prevê ações de prevenção e combate à violência física, psicológica, sexual, patrimonial e financeira contra o idoso;
- Assistência social e saúde: são assegurados aos idosos serviços de assistência social, acesso gratuito a medicamentos e atendimento especializado;
- Moradia e transporte: o idoso tem direito à moradia digna e ao transporte público gratuito em algumas cidades brasileiras;
- Prioridade processual: os processos judiciais que envolvam pessoas idosas têm prioridade na tramitação;
- Tutela e curatela: o Estatuto regula os procedimentos de tutela e curatela para proteger os idosos que não podem cuidar de seus próprios interesses.
Essas são apenas algumas das principais disposições do Estatuto do Idoso. Ele representa um importante instrumento legal para garantir os direitos e a proteção dos idosos no Brasil e busca promover uma sociedade mais inclusiva e respeitosa com todas as faixas etárias.