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Hoje, existem mais de 65 milhões de brasileiros endividados. A inadimplência deixou de ser apenas um problema econômico, e se tornou um problema social.

De acordo com uma pesquisa do SPC Brasil, as emoções e sentimentos pesam muito no orçamento dos brasileiros. Dos entrevistados, 40% perderam a noção de limite de gastos em baladas ou jantares, 40% foram pressionados a gastar mais com amigos e família, 37% gastaram mais do que podiam para aproveitar a vida, 36% admitiram compras não planejadas para se sentirem melhor e 27% excederam o orçamento para ficarem mais bonitos.

Mas os impactos negativos da inadimplência vão muito além de fatores econômicos. Ou seja, ficar devendo não só afeta seu bolso, como também sua saúde física e mental. Dos entrevistados, 21% demonstrou muita ansiedade, 13% relataram insatisfação ou problemas no trabalho, 12% se abalaram por dificuldades financeiras e 9% tiveram problemas com relacionamentos familiares.

Esses são temas delicados, e que precisam de muita atenção. Para explorarmos um pouco mais este tema, convidamos uma especialista em psicologia e planejamento financeiro para explicar como nossas emoções afetam nossa saúde financeira e vice-versa.

Quando comprar se transforma em um transtorno

Todo mundo faz compras. É a maneira que adquirimos necessidades como comida, roupas, e itens de consumo, como telefones celulares, decoração de casa etc. Nos tempos atuais tornou-se muito fácil comprar online, 24 horas por dia. E aí surge a questão: como saber quando o ato de fazer compras se transforma em um transtorno compulsivo?

A compra compulsiva é um desejo incontrolável de fazer compras, o que resulta em gastar muito tempo e dinheiro na atividade. Geralmente, uma pessoa que compra compulsivamente tem o desejo de comprar em resposta a emoções negativas ou compensação. É a busca pela satisfação imediata que, assim como em um vício, se torna uma dependência. Naturalmente esse tipo de comportamento traz consequências. Não é incomum que o indivíduo passe a ter problemas com relacionamentos e finanças descontroladas como resultado de seu comportamento compulsivo.

O que dizem os especialistas

A psicóloga Mariza Lencioni, especialista em endividamento, compras por compulsão e planejamento financeiro comenta que muitos dos seus pacientes chegam ao consultório com os seguintes relatos:

  • “Estou gastando muito dinheiro e não me sobra dinheiro ao final do mês”;
  • “Não consigo poupar dinheiro para fazer coisas que gosto como sair com amigos, ir ao teatro ou viajar”;
  • “Faço compras desnecessárias que às vezes nem utilizo. Às vezes passam-se meses ou anos e eu não usei aquela roupa ou sapato que comprei por impulso”;
  • “Gasto muito dinheiro no supermercado e compro mais do que realmente preciso. Quando percebo os itens estragaram dentro da geladeira. Além disso, às vezes compro muita comida e acabo comendo mais que devo”;
  • “Estou endividado, não consigo pagar a fatura do meu cartão de crédito. Acabo parcelando a fatura ou entrando no cheque especial”.

Segundo Mariza, há casos em que a necessidade de comprar pode ser comparada há um dependente químico, e todo consumo desenfreado é uma forma de preencher um vazio interior. Da mesma forma que uma pessoa come demais quando sente-se carente, ela também faz compras quando está triste e passa a acreditar que pode eliminar a tristeza se comprar uma roupa ou objetos novos.

Muitas vezes a pessoa faz o movimento de ir ao shopping, entra em lojas, encontra crédito fácil e acaba adquirindo bens que não precisa, carregando consigo um parcelamento longo de 10 ou 12 meses que compromete parte da renda. Logo depois do movimento de compra vem a culpa. O indivíduo passa a se questionar porque efetuou determinada aquisição se não a está utilizando. Trata-se de uma necessidade de preenchimento, que pode ser afetiva, uma carência de sentir-se aceito pela sociedade pelo que possui e não pelo o que é.

Na cabeça de quem compra esse sentimento é muito real. Os pensamentos que passam são: “hoje eu estou triste e vou ao shopping comprar um sapato”. Na realidade, ela não está precisando do sapato e sim da sensação do prazer de comprar um sapato. Normalmente, as pessoas costumam repetir internamente que merecem comprar algo novo. Esse ciclo vicioso só muda com autoconhecimento, quando passamos a compreender que não precisamos unicamente de bens materiais para alcançar a felicidade e a sensação de pertencimento.

Mariza afirma ainda, que é importante compreender o contexto de cada pessoa, pois elas são únicas. Ela comenta que, com uma de suas pacientes, trabalha a questão do consumo consciente. No caso dessa paciente que trabalha com questões ambientais, discute-se o impacto para o meio ambiente de sempre comprar peças novas. Será que precisamos comprar sempre coisas novas ou podemos aproveitar a economia colaborativa e fazer uso de peças usadas e em bom estado? Eu realmente preciso ter uma dúzia de calças jeans? O grande questionamento aqui é para quê estou comprando determinado item?

Ainda segundo a psicóloga, nem todo mundo que está endividado tem compulsão ou problemas com compras. Vivemos uma realidade econômica complicada em nosso país. O Brasil está em crise, as pessoas perderam empregos, algumas passaram a trabalhar de maneira informal ou se re-colocaram ganhando menos e precisam adaptar suas finanças para a nova condição. No entanto, nem sempre essa adaptação é rápida, principalmente quando temos compromissos de longo prazo como financiamentos de carros, casas e apartamentos.

Dicas para sair do endividamento

  1. O primeiro passo é compreender os gatilhos que nos levam às compras. Será que eu preciso fazer compras porque é Black Friday? Qual é o propósito da compra? Eu preciso mesmo de determinado item? Eu vou utilizar? Por vezes as respostas para essas perguntas já mitigam uma compra desnecessária.

2. Depois, garanta que o consumo esteja adequado ao patamar de renda familiar. Muitas pessoas se endividam porque precisam comprar alimentos, roupas para os filhos, pagar a mensalidade da escola, entre outros. É preciso analisar e separar os gastos essenciais dos supérfluos, que podem ser eliminados imediatamente. O que acontece, nesses casos, é que o indivíduo entra em depressão, passa a ter crises de ansiedade e adoece. Principalmente, porque inconscientemente a própria pessoa associa o endividamento com fracasso. Ter o “nome sujo” no mercado pode ter um impacto muito grande na saúde física e mental.

3. Para quebrar o círculo vicioso de gerar dívidas para quitar outras dívidas, é importante aprender a renegociar para sair imediatamente da situação de estresse e poder se reorganizar com calma. Para isso vale procurar empresas especializadas em regularizar seu débito com facilidade e segurança.

4. A ajuda de um profissional de psicologia pode ser fundamental. Nem sempre conseguimos enxergar sozinhos uma saída. Adquirir uma dívida não é um problema, o maior dano está em perder o controle do orçamento e do sentido das compras. Compreender os gatilhos emocionais é crucial para eliminar os gastos desnecessários.

O mais importante é saber que você não está sozinho, e existem milhões de pessoas na mesma situação. E lembre-se que toda mudança começa por você! Procure ajuda de um especialista para receber o apoio necessário nessa jornada.