Você já reparou que, ao falar de poupança ou de certos investimentos, sempre aparece o termo Taxa Referencial (TR)? Embora não seja tão comentada quanto a Selic, a TR tem um papel importante no rendimento de aplicações tradicionais, como a caderneta de poupança e o FGTS.
Ainda que o uso da poupança tenha recuado nos últimos anos, de acordo com uma pesquisa feita pela ANBIMA (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), ela segue como o investimento preferido dos brasileiros, somando 32 milhões de pessoas.
Mesmo sendo, muitas vezes, próxima de zero, a Taxa Referencial pode impactar diretamente o quanto o dinheiro cresce ao longo do tempo, especialmente a poupança. Neste artigo, vamos explicar de forma simples o que é a Taxa Referencial, como ela é calculada e de que maneira influencia a rentabilidade da sua poupança.
Índice:
O que é Taxa Referencial?
A Taxa Referencial (TR) é um índice criado pelo governo brasileiro em 1991 para servir como referência na economia, especialmente em aplicações financeiras.
Ela não é uma taxa de juros comum, mas sim um cálculo baseado nos rendimentos médios dos títulos públicos (as chamadas LFTs – Letras Financeiras do Tesouro), ajustado por uma fórmula definida pelo Banco Central.
Na prática, a TR é utilizada para corrigir alguns tipos de investimentos e contratos, como:
- Poupança: faz parte da fórmula que define o rendimento da caderneta;
- FGTS: corrige o saldo das contas vinculadas;
- Financiamentos imobiliários: pode ser usada como índice de atualização.
Atualmente, por conta do cenário econômico e da forma como é calculada, a TR tem se mantido em 0% na maior parte do tempo, mas ainda assim é um fator que impacta diretamente quem investe em poupança ou tem saldo no FGTS.
Como a Taxa Referencial é calculada?
A Taxa Referencial tem uma fórmula própria, definida pelo Banco Central, que parte das taxas de juros praticadas no mercado.
De forma simplificada, o cálculo funciona assim:
- Coleta de dados: o Banco Central observa a média ponderada dos juros pagos pelos bancos em títulos públicos (principalmente as LFTs – Letras Financeiras do Tesouro). Essa média é chamada de Taxa Básica Financeira (TBF);
- Aplicação da fórmula: a TR é derivada da TBF por meio de uma equação que reduz seu valor, para que ela não acompanhe integralmente a taxa de mercado. A fórmula utilizada é: TR=(R1+TBF−1)×100;
- Resultado final: na prática, esse redutor faz com que a TR seja, muitas vezes, igual a zero, especialmente em cenários de juros mais baixos.
Exemplo prático: se a TBF é calculada em torno de 10% ao ano, o redutor aplicado pode fazer com que a TR fique em algo próximo de 0% ou muito abaixo dessa média.
Assim, a TR não representa exatamente uma taxa de juros real de mercado, mas um índice de referência, usado para corrigir poupança, FGTS e contratos.
TR diária e TR mensal: qual a diferença?
A Taxa Referencial pode ser divulgada em duas versões: a diária e a mensal. Embora ambas sigam a mesma lógica de cálculo, elas são utilizadas de maneiras diferentes no mercado financeiro.
TR diária
É o valor calculado a cada dia útil pelo Banco Central. Na TR diária é considerada a Taxa Básica Financeira (TBF) daquele dia e aplica o redutor definido pela fórmula oficial. É usada em operações que precisam de atualização dia a dia, como alguns contratos de financiamento ou cálculos internos de instituições financeiras.
Além disso, serve como matéria-prima para o cálculo da TR mensal.
TR mensal
É o índice consolidado de todo um mês, resultante do acúmulo das TRs diárias publicadas pelo Banco Central. O valor é divulgado oficialmente já “pronto” ao fim de cada mês. É a versão mais aplicada no cotidiano dos brasileiros, pois corrige:
- Poupança: compõe a fórmula do rendimento (0,5% ao mês + TR, para quem tem direito a essa regra);
- FGTS: o saldo das contas vinculadas é corrigido pela TR mensal + juros de 3% ao ano;
- Contratos imobiliários: especialmente nos financiamentos do SFH (Sistema Financeiro da Habitação).
Em resumo, a Taxa Referencial diária é um dado técnico, usado no dia a dia do mercado financeiro. Já a TR mensal é a versão consolidada e a que realmente impacta os rendimentos da poupança, do FGTS e de alguns contratos de longo prazo.
Qual a Taxa Referencial hoje e recentemente?
Em agosto de 2025, a TR mensal é de 0,17 % (ou 0,1722 %). Esse valor já foi consolidado e divulgado oficialmente. Nesse mesmo período, o acumulado dos últimos 12 meses alcançou 1,59 % (setembro/2024 a agosto/2025), também divulgado oficialmente.
Já o acumulado no ano de 2025, até agosto, é de 1,28 %.
Histórico recente da TR mensal (2025)
Ano/Mês | TR Mensal (%) | Acumulado em 2025 (%) | Acumulado em 12 meses (%) |
---|
Jan/2025 | 0,1690 | 0,17 | 0,90 |
Fev/2025 | 0,1324 | 0,30 | 1,02 |
Mar/2025 | 0,1092 | 0,41 | 1,10 |
Abr/2025 | 0,1689 | 0,58 | 1,17 |
Mai/2025 | 0,1712 | 0,75 | 1,25 |
Jun/2025 | 0,1699 | 0,92 | 1,39 |
Jul/2025 | 0,1758 | 1,10 | 1,49 |
Ago/2025 | 0,1722 | 1,28 | 1,59 |
Panorama histórico desde a origem (anos 1990)
A TR já apresentou valores expressivamente mais altos, especialmente no período pós-Plano Real, refletindo ainda os efeitos da inflação e os esforços de desindexação:
- Nos primeiros anos (1991–1994), a TR mensal frequentemente ultrapassava 20 % a 30 %;
- Em 1994, houve meses com TR mensal entre 40 % e até 46 %;
- A partir do fim dos anos 1990, a taxa começou a recuar significativamente, até estabilizar em níveis baixos na década seguinte;
- Entre 2017 e 2021, a TR ficou em 0 %, devido ao baixo nível da Selic, que impacta diretamente seu cálculo;
- Desde 2022, com a retomada gradual da Selic, a TR voltou a registrar valores positivos, ainda que contidos;
- A TR mensal atual (0,17 %) é relativamente baixa, especialmente se comparada aos patamares históricos (anos 1990).
Taxa Referencial zero: o que acontece quando isso ocorre?
Quando o cálculo da TR resulta em zero, quer dizer que a fórmula aplicada pelo Banco Central, a partir da TBF (Taxa Básica Financeira), não gera variação suficiente para que haja correção.
Isso acontece geralmente em cenários de juros básicos mais baixos. Mas, afinal, o que acontece na prática quando a TR é zero?
Poupança
- A rentabilidade da poupança, em alguns casos, inclui a TR + 0,5% ao mês (na regra antiga);
- Se a TR é zero, a poupança rende apenas os 0,5% mensais (ou, na regra nova, 70% da Selic quando esta é menor ou igual a 8,5% ao ano);
- Resultado: ganho menor, porque não há aquele “extra” da TR.
FGTS
- O saldo do Fundo de Garantia é corrigido por TR + 3% ao ano;
- Com a TR zerada, o rendimento do FGTS cai para apenas 3% ao ano, o que geralmente fica abaixo da inflação;
- Resultado: perda de poder de compra ao longo do tempo.
Financiamentos imobiliários
Alguns contratos usam a TR como indexador. Portanto, se a TR é zero, as parcelas ficam estáveis (não sofrem correção por esse índice).
Resultado: vantagem para o mutuário, porque a dívida não se corrige pela TR.
Em resumo, para investidores e trabalhadores (poupança e FGTS), a TR em 0% reduz os rendimentos. Já para quem tem financiamentos atrelados à TR, a taxa zerada pode ser benéfica, já que impede aumentos nas parcelas.
A Taxa Referencial pode até passar despercebida no dia a dia, mas exerce influência direta em investimentos e contratos importantes, como a poupança, o FGTS e financiamentos imobiliários. Quando está próxima de zero, os rendimentos de aplicações ligadas a ela ficam mais baixos, mas, por outro lado, pode aliviar quem tem dívidas atreladas ao índice.
Por isso, acompanhar a TR é essencial para entender melhor como seu dinheiro rende ou como suas parcelas evoluem, e assim, tomar decisões financeiras mais conscientes.